Resumo |
Nos últimos anos, o Brasil viu o surgimento de manifestações políticas lideradas por movimentos com diferentes agendas e insatisfações, acompanhado por um aumento nas atitudes de hostilidade entre os grupos. O presente estudo investiga se, e como, as atitudes (in)tolerantes estão ligadas ao engajamento político mais especificamente, à atividade de protesto e os custos e efeitos que essas atitudes podem ter em um sistema democrático. O estudo utiliza técnicas multivariadas com dados do Lapop (2016-2017; 2018-2019) e do Datafolha (2019) para testar se a (in)tolerância leva à participação em protestos e como as chances de participação de um grupo são afetadas a depender de sua posição em um espectro de (in)tolerância e de suas preferências e princípios democráticos. A hipótese de trabalho é de que a (in)tolerância política varia de acordo com as configurações e relações entre grupos e, portanto, não afeta diretamente a participação em protesto, se considerada isoladamente. A (in)tolerância está relacionada aos custos percebidos de tolerar grupos políticos rivais que, por sua vez, determinam a propensão individual a atitudes (in)tolerantes que afetam o engajamento político. Os resultados mais gerais da pesquisa indicam que os grupos aos quais a (in)tolerância é direcionada e a adesão do grupo de pertencimento aos princípios democráticos estão frequentemente conectadas a atitudes (in)tolerantes e envolvimento em protesto. Eu argumento, portanto, que os efeitos da (in)tolerância só podem ser adequadamente compreendidos quando se leva em consideração quais grupos e comportamentos são tolerados ou não, e por quais razões. |