Resumo |
Em meio a crises sistêmicas, os desafios à legitimidade da ordem internacional liberal e de seus pilares ideacionais têm remodelado as formas pelas quais os Estados se relacionam com esse espaço social um campo que fornece as bases simbólicas para a construção da política externa dos Estados nela inseridos. Dessa forma, reconhecendo a importância de inserir os países do Sul Global nas análises sobre a constituição, evolução e crise da OIL, este trabalho buscar discutir e analisar como o vínculo entre o Brasil e a ordem internacional liberal evoluiu nos últimos 30 anos, a partir da análise de como as elites políticas reimaginaram o Self estatal do país dentro do sistema internacional durante o período. A partir de um marco teórico que combina contribuições das Relações Internacionais e da Ciência Política, propõe-se que toda identidade internacional pode ser entendida como uma prática discursiva construída a partir da legitimação de um conjunto de ideias e discursos sobre a OIL, os quais constituem as tradições discursivas de um país projetadas em sua política externa. Assim, o presente trabalho analisa criticamente a tensão entre as tradições discursivas da política externa brasileira (PEB) e os pilares ideacionais da OIL, que, por sua vez, criam padrões de crítica e lealdade em seus discursos externos. Aplicando técnicas de mineração textual nos discursos brasileiros durante a Abertura da Assembleia Geral da ONU, trabalhou-se com a hipótese que o período foi marcado por uma dualidade e sobreposição de discursos de crítica e lealdade conforme o país reimaginou o lugar do ideário liberal dentro da sua identidade como Estado. A análise permitiu caracterizar as respostas do Brasil à OIL em três momentos distintos. O primeiro período, que perdurou entre 1985 e 2002, foi marcado por um otimismo liberal ambivalente, no qual a defesa do ideário liberal conviveu com discursos críticos a aspectos da ordem global que afetaram negativamente o desenvolvimento econômico do país. Já o período entre 2003 e 2015 foi marcado por um padrão discursivo social-liberal buscou-se dar um sentido mais social tanto aos objetivos do multilateralismo liberal quanto ao propósito da atuação estatal brasileira nos planos global e local. O período que se inicia em 2016 e perdura até hoje tem sido marcado por uma falta de clareza interna na articulação de crítica, lealdade e rejeição à arquitetura liberal global. O governo Bolsonaro buscou reimaginar a identidade internacional brasileira, atrelando novas ênfases ao ideal de liberdade em seus discursos, porém, o retorno de Lula significou a recuperação do padrão discursivo que marcou seus primeiros dois mandatos. |
Palavras-chave |
Brasil, mineração textual, ONU, ordem internacional liberal, Política externa |