Resumo |
Este trabalho investiga a sucessão de governos populistas, com foco na compreensão dos fatores que influenciam as tendências autoritárias e/ou democráticas dos governos de sucessores de líderes populistas. A pesquisa analisa como o carisma do líder populista, o processo de hibridização das instituições durante seu governo e os fatores contingenciais relacionados ao processo de sucessão influenciam os governos dos sucessores. Os casos da Argentina, com Néstor e Cristina Kirchner, e da Venezuela, com Hugo Chávez e Nicolás Maduro, foram analisados segundo o método de Análise Comparativa Histórica e com auxílio do process-tracing. O estudo de caso comparado permitiu concluir que os três fatores foram relevantes para explicar as tendências autoritárias ou democráticas dos governos dos sucessores de líderes populistas, mas com diferentes pesos. O grau de hibridização das instituições e o carisma do líder populista se mostraram mais relevantes do que o processo específico de sucessão. A análise mostrou que o grau de hibridização do regime deixado pelos líderes populistas tem alto impacto sobre o governo do sucessor: quanto maior o grau de hibridização das instituições durante o governo populista maiores as tendências autoritárias do sucessor em concentrar poder em torno de si. O carisma por sua vez, também se mostrou relevante, mas de formas diferentes: por um lado, quanto mais o governo do líder populista baseia sua legitimidade no carisma pessoal do presidente, tanto mais difícil será para o sucessor estabelecer um governo tido como legítimo, o que pode incentivar a mobilização de práticas autoritárias para estabilizar o poder; por outro lado, se o líder populista é bem sucedido em rotinizar seu carisma dentro das instituições e da sociedade de maneira a torná-lo impessoal, outros líderes conseguem se beneficiar desse carisma positivamente sem a necessidade de mobilização de práticas autoritárias. Por último, os aspectos contingenciais relacionados à sucessão se mostraram relevantes, porém em menor medida: as análises apontam que as situações atípicas e imprevisíveis de transição dificultam a capacidade de construção de uma candidatura eleitoralmente forte e diminuem a adesão do sucessor aos princípios democráticos. Em resumo, o caso da Venezuela permitiu constatar como o carisma de Chávez, o processo de hibridização durante seu governo e as circunstâncias inusuais e imprevisíveis da sucessão contribuíram para as tendências autoritárias de Maduro. Por sua vez, no caso da Argentina a falta de carisma de Néstor, o processo de hibridização fraco de seu governo e as circunstâncias previsíveis e normais de transição de governo contribuíram para a manutenção da democracia argentina. |