Resumo |
Vem sendo consenso entre cientistas políticos de que a morte da democracia não seria um fenômeno decorrente apenas de eventos súbitos, como golpes militares e fechamento do Congresso. Nesta nova conjuntura, chamada de terceira onda de autocratização (1994-2023), a reversão da democracia ocorre de forma gradual e por meio de vias legais (LÜHRMANN & LINDBERG, 2019). Na América Latina, tal processo ocorre com intensidades e dinâmicas próprias, pois as crises econômicas, os constantes problemas no âmbito socioeconômico, a força e a frequente interferência de atores pretorianos na arena política e o frágil compromisso das elites com as instituições democráticas (formais e informais) continuariam a ser um empecilho à institucionalização da soberania popular. Essas condições causais típicas da região que chegaram a receber conjuntamente a alcunha de latinoamericanização (LEVINE, 1994). Dessa maneira, a terceira onda que se manifesta na América Latina possui agravantes próprios que potencialmente podem colocar a democracia sob risco. Dito isto, a questão que norteou a pesquisa foi: como os fatores políticos e socioeconômicos típicos da latinoamericanização contribuem para inserir a América Latina na terceira onda de autocratização? Com vistas a responder a essa questão, delimitou-se como objeto de pesquisa os eventos que enfraqueceram as democracias do Brasil e da Venezuela, segundo os scores de democratização registrados Projeto Variedades da Democracia (V-Dem). A hipótese era de que a combinação de mau desempenho socioeconômico, fraco apoio dos cidadãos à democracia e coalizões radicais e desleais formaria uma condição suficiente para explicar o fenômeno de interesse. Por meio da Abordagem Qualitativa-Comparativa (QCA), chegou-se à conclusão de que coalizões políticas antidemocráticas constituem a condição suficiente para explicar o revés democrático. |
Palavras-chave |
América Latina, Autocratização, Brasil, Crise da Democracia, Venezuela |