Resumo |
Não há quem negue a importância de povo para a política contemporânea. Na opinião pública, entre os políticos e partidos, na literatura, tanto se fala de povo, mas o que é povo? Quem é povo? Existe um povo? Esta dissertação parte da multiplicidade de imaginários sobre povo e de um diagnóstico do seu tratamento tangencial e/ou secundário na literatura da ciência política. Nessas discussões acadêmicas, recorrentemente identifica-se a multiplicidade de conteúdos que povo pode adotar, mas direciona-se, na maior parte das vezes, ou (i) no sentido de negar sua utilidade analítica alegando abstração; ou (ii) em um tratamento que o reveste de caráter negativo a priori ou (iii) em uma tentativa de aproximação ao aparato formal-institucional, o esvaziando do seu potencial analítico. Diante disso, esta pesquisa assume a multiplicidade de povo reconhecendo que se trata de uma categoria política que é eminentemente construída, precária e contingente. Mobilizando a perspectiva pós-fundacional e a teoria de Ernesto Laclau, busca-se identificar essa multiplicidade de sentidos que povo assume a partir da análise das construções discursivas, via Twitter, de três atores políticos Bolsonaro, Huck e Lula em torno do sujeito popular frente ao acontecimento da pandemia da Covid-19. Nessa análise, são identificados quatro significantes flutuantes povo soberano, povo nação, povo marginalizado e povo trabalhador como as formas preferenciais desses atores em suas tentativas de fixar um sentido de povo, explorando suas articulações discursivas e identificando os elementos, sentidos, lógicas e antagonismos políticos envolvidos em tal operação. A análise conduzida indica para a multiplicidade de sentidos associados a cada significante, chamando a atenção para as relações entre tais operações e suas implicações, discutindo o potencial de tal perspectiva teórica e exercício empírico no endereçamento de discussões diversas da ciência política, especialmente populismo e democracia. |