Resumo |
Esta pesquisa pretende analisar como foi o processo de institucionalização estatal das demandas dos movimentos afrodescendentes no Brasil, Equador e Venezuela, entendendo a institucionalização como o processo de converter suas demandas em instituições governamentais, legislação, ou na ocupação de cargos públicos. O objetivo é o de entender avanços e limitações nos projetos de expansão da democracia, iniciados a partir do século XXI, na América Latina, especificamente nestes três países e em relação às demandas raciais. Queremos assim, observar em perspectiva comparada, os processos de negociações políticas, marchas, lobbies e outras estratégias que levaram a respostas dos governos, no âmbito nacional, que conseguiram incorporar, mesmo que parcialmente, as demandas dos movimentos. O argumento que organiza esta Tese é o de que a começo do século XXI com movimentos afrodescendentes mais organizados na região, após o processo da III Conferência mundial contra o racismo, e junto com a chegada de governos de esquerda e centro-esquerda latino-americanos, impulsionaram o processo de institucionalização estatal das demandas dos movimentos afrodescendentes na região.
Temos assim, por hipótese central nesta Tese, que: o processo de institucionalização estatal das demandas de afrodescendentes é caudatário de três dimensões, a saber: a configuração do espaço político regional que possibilita a institucionalização de determinadas demandas e constrange outras; a gênese dos processos de institucionalização das demandas dos movimentos afrodescendentes referentes ao contexto interno de cada país; e as diferentes formas e padrões que a interação movimento-governo terminou assumindo ao longo do tempo.
Com a criação de instituições de combate ao racismo ou de desenvolvimento para comunidades afrodescendentes - dependendo do enfoque em cada país -, ativistas dos movimentos sociais começaram a agir, não apenas perante o Estado (outsiders), mas dentro do próprio Estado (insiders).
Contudo, o lugar que militantes afrodescendentes ocupam agora entre a institucionalidade estatal e o movimento social não se explica apenas observando as fronteiras difusas da interação outsider/insider, mas configura um outro lugar, mesmo estando no governo, eles são vistos e percebidos como de fora. Assim, o racismo se manifesta como um factor limitante nos processos de institucionalização.
No capítulo I discutimos os principais conceitos que guiam nossa investigação, a saber: corpo impolítico, epistemologia da ignorância, memória coletiva e solidariedade racializada e serão salientadas as principais implicações desses conceitos sobre a pesquisa. No capítulo II se discute o contexto político de início de institucionalização das demandas de afrodescendentes para com o Estado, em contexto de neoliberalismo e multiculturalismo. Já no capítulo III se discutem as oportunidades e constrangimentos do contexto político de inserção dos atores do movimento afrodescendente na América Latina |